Criação possui cabine com vasos sanitário e chuveiro (Foto: Lara Leite)
Um projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU- USP) desenvolveu um banheiro para a situação de emergência municipal. Tendo como base o estudo das constantes inundações do município de Eldorado, localizado no Vale do Ribeira, o banheiro funciona a partir de uma fonte de água e tem a mobilidade para ser realocado para outras áreas de necessidade.
A ideia inicial era desenvolver uma cozinha móvel que pudesse ser utilizada nos abrigos improvisados, onde cidadãos afetados pelo desastre são realocados. Mas, após estudar as inundações com maior especificidade e analisar as medidas do governo para resolver os problemas gerados pelo alagamento, Lara Leite, a chefe do projeto e docente da FAU-USP, percebeu que a maior necessidade era a criação de um banheiro adaptável a essas circunstâncias.
De acordo com a professora, o município de Eldorado contratava merendeiras para atender os desabrigados, o que diminui a necessidade de uma cozinha. O estudo também revelou que o local de recolhimento temporário, muitas vezes localizados nos ginásios e escolas da cidade, tinham dificuldade de oferecer um serviço de banheiro para todas as pessoas.
“O banheiro era um projeto relevante porque não se consegue resolver com o improviso ou com as instalações presentes nos prédios utilizados como abrigos, principalmente quando se falta energia e, às vezes, é um local que não tem um fornecimento de água e fornecimento de esgoto”, afirma a docente.
Com grande mobilidade, a invenção pode ser transportada para lugares com maior necessidade (Foto: Lara Leite)
Criado como uma forma de resolver os problemas municipais, o protótipo é adaptável a situações extremas, nas quais não existe fornecimento de água, energia e esgoto. A ideia era abranger a maior gama de possibilidades e utilizá-lo em qualquer prédio que fosse utilizado como abrigo temporário, moldando-o a locais sem infraestrutura.
A única necessidade que o banheiro possui é estar acoplado a uma fonte de água e Lara sugere a utilização do rio alagado, mesmo que este esteja poluído. Por isso, o protótipo possui um aparelho de ultrafiltração capaz de reutilizar a água poluída.
Sem contar com o uso de uma fonte energia, existem duas estratégias diferentes para promover o aquecimento da água do chuveiro. A primeira é a utilização dos painéis solares acoplados no topo do container e, a outra, é o reaproveitamento do calor de um gerador de energia.
Além de contar com chuveiros, o banheiro possui vasos sanitários e lavabos, em cabines diferentes. Na parte inferior, a invenção também conta com um coletor de resíduos, que facilita a retirada da sujeira e permite o transporte a uma zona de tratamento. De acordo com a pesquisadora, a limpeza deve ser semanal com a retirada constante dos bolsões de resíduos, mas o container em si é reutilizado.
Interesse surpreendente
A fundamentação prévia do projeto previa que os maiores interessados seriam as instituições governamentais e os governos na tentativa de atender uma situação de emergência após o desastre. Apesar disso, Lara Leite tem recebido contato de empresários para o uso do banheiro em eventos.
“O setor que trabalha com montagens de eventos no Brasil tem tem a necessidade de ter uma banheiro para atender a equipe, não só os usuários de uma festa, mas também para quem trabalha com esses eventos”, evidencia. “Isso foge totalmente da questão dos desastres, mas é uma demanda de uma necessidade de um banheiro temporário que atende por um período, com esse funcionamento completo”.
De acordo com a chefe do projeto, o protótipo, por ser modular, se adapta a situações não extremas sendo acoplado a fonte de energia e de água, por exemplo, caixas d’água e reservatórios. O modelo também pode ser alterado para atender às maiores necessidades presentes, por meio do aumento do número de chuveiros ou de vasos sanitários.
Recentemente a invenção foi patenteada pela Agência USP de Inovação sob o número BR102018004410-9.
