Edtech brasileira foi essencial em cirurgia inédita de separação de gêmeas siamesas
O nascimento de gêmeos siameses é extremamente raro no mundo. Nos últimos onze anos, cerca de 500 casos foram registrados no Brasil. Um deles aconteceu em setembro de 2020, no estado de Rondônia, com as gêmeas Sara e Eloá. O caso, considerado de extremo risco pelos médicos, conseguiu um final feliz graças ao esforço conjunto de médicos e profissionais da startup brasileira MedRoom.
As irmãs nasceram unidas pelo tórax e abdômen. Mas, a maior dificuldade para uma cirurgia de separação era a união da estrutura intra-cardíaca, inédito no Brasil. Os primeiros exames realizados no Instituto do Coração, o InCor, em São Paulo, foram tomografias. Elas deram algumas noções para os médicos sobre a anatomia do corpo delas.
Apesar dos riscos, o InCor apresentou o caso para a startup MedRoom em busca de análises mais precisas sobre a viabilidade da cirurgia. Com o prazo de apenas 30 dias, a edtech contou com dois profissionais para desenvolver um sistema capaz de reproduzir com precisão os modelos 3D gerados com base nos exames de imagem das gêmeas.
Corrida contra o tempo
Segundo o relato do fundador da empresa, Sandro Nhaia, desde 2018 estava em desenvolvimento um protótipo de Visualizador DICOM, sigla para Digital Imaging and Communications in Medicine (Comunicação de Imagens Digitais na Medicina). Trata-se de um conjunto de normas com o objetivo de facilitar a comunicação e o armazenamento de imagens de diagnóstico, garantindo a segurança das informações.
O principal desafio era desenvolver uma solução específica para o caso das gêmeas em um curto período de tempo. O Lead Tech Artist da MedRoom, Luiz Aroca, destaca que o processo envolveu três etapas principais. Primeiro, o recebimento dos dados das irmãs, disponibilizados pela equipe médica. Depois, foi construído um espaço virtual para a visualização em três dimensões dos exames. Por fim, foram incorporadas ferramentas de anotação e discussão dentro da realidade virtual para a pré-visualização.
Novas perspectivas
Para o diretor da ala de Cirurgia Pediátrica Cardíaca de InCor, Marcelo Jatene, o uso da realidade virtual se mostrou de extrema utilidade. As imagens tridimensionais permitiram o melhor entendimento da anatomia de seus corações, ossos do peito, fígado e veias circulatórias. Assim, foi possível para os médicos concluírem que apesar da união na estrutura intra-cardíaca, os corações eram independentes e a separação era viável.
Os protótipos da empresa também foram essenciais para definir o melhor plano de cirurgia para o caso das irmãs. Inicialmente, eles pretendiam fazer por um lado, mas a realidade virtual os ajudou a escolherem a melhor opção. Outros detalhes, como por qual local deveria se iniciar a operação, também foram escolhidos com auxílio da tecnologia.
MedRoom: soluções inovadoras para a saúde
A cirurgia foi um sucesso, assim como a recuperação de Sara e Eloá. A solução desenvolvida fortaleceu a parceria entre a MedRoom e o Instituto do Coração, iniciada em 2019. Desde então, a realidade virtual tem sido ativamente utilizada para o treinamento de profissionais em UTIs públicas de São Paulo, baseado em um protocolo de procedimentos validados pelas principais universidades do estado, como USP, Unicamp e Unifesp, além da Secretária Estadual de Saúde.
A startup MedRoom é uma premiada edtech brasileira focada em soluções para educação em saúde por meio da realidade virtual. Fundada em 2016, por Sandro Nhaia, que foi integrante do projeto homem virtual da FMUSP, e Vinícius Gusmão, formado em Biologia pela USP, a empresa fez parte do programa StartNEU, projeto desenvolvido pelo Núcleo de Empreendedorismo da USP, que consiste em programas de aceleração de startups.
Em sete anos de existência, a MedRoom une a tecnologia com a capacidade de serem transformadores na sociedade. Suas soluções inovadoras para o ensino de anatomia estão presentes em cursos de saúde no Brasil, México, Paraguai e Peru.
Por: Julia do Nascimento Martins