Conheça a Kimera Biotecnologia, startup brasileira que desenvolve tecnologia para otimizar a inseminação artificial animal

Produto pioneiro idealizado pela empresa reduz o sofrimento dos animais

 

Camillo Del Cistia e Mayb Andrade, fundadores da empresa [Imagem: AUSPIN]

Foi no Laboratório de Glicobiologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, em 2012, que surgiu a ideia da Kimera Biotecnologia, conta o sócio-fundador, Camillo Del Cistia Andrade, PhD em biologia molecular, em entrevista para a Dra. Flávia Prado, Agente de Inovação da Agência USP de Inovação, Polo de Ribeirão Preto e Bauru.

Durante sua pesquisa de Pós-Doutorado, Camillo realizou, de forma simultânea, estudos na área de saúde animal, especificamente sobre reprodução. Um de seus objetos de análise foi um medicamento utilizado para estimular a ovulação de vacas antes do processo de inseminação artificial. Ele descobriu que o remédio era produzido através da extração do hormônio gonadotrofina coriônica equina (eCG) do sangue de éguas prenhas.

O pesquisador aprofundou seus estudos na ação do hormônio no organismo do animal. Ele descobriu um problema: as éguas não produzem o eCG durante toda a gestação, apenas no início, e a extração dele causa o aborto da fêmea. “Fora do Brasil, existem fazendas de éguas prenhas só para isso. Há pedidos no Parlamento Europeu para acabar com esse medicamento, na Oceania não existe mais. Só que não tem um substituto e se usa muito no Brasil”, relata Mayb Andrade, diretora administrativa e financeira da Kimera.

Comovido com a situação dos animais, Camillo pensou: “E se a gente fizesse no laboratório o que o organismo da égua faz?” Assim, ele e sua equipe coletaram a parte do DNA equino com as informações para a produção do hormônio e refizeram o processo utilizando a tecnologia do DNA recombinante. O produto mostrou-se tão eficaz quanto o tradicional e com um custo de produção entre 40% e 50% menor.

 

Local onde o produto será produzido futuramente para a fase de testes [Imagem: AUSPIN]

Primeiros passos da empresa

Mesmo com os resultados positivos, Mayb, esposa de Camillo, estava hesitante que ele saísse da universidade para empreender. Mas, com o estímulo ao empreendedorismo oferecido pela USP e convencida com os benefícios do produto, ela o apoiou: “Em 2014, montamos o CNPJ e recebemos a aprovação do PIPE 1 da Fapesp”, conta a diretora. O programa de Pesquisa Inovativa de Pequenas Empresas oferece apoio para pesquisas científicas e tecnológicas para empresas menores.

A diretora também destaca o papel crucial da universidade no depósito da patente. “Não sabíamos por onde começar”, afirma Camillo e Mayb complementa: “Foi quando nós conhecemos o pessoal da Agência USP de Inovação, que [nos] ajudou na parte técnica”. No ano seguinte, a Kimera Biotecnologia foi instalada no SUPERA, Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto. O ambiente foi essencial para o amadurecimento da startup, oferecendo cursos, palestras, networking e fundos de investimento.

 

Área de produção [Imagem: AUSPIN]

Em seguida, a empresa foi aprovada para o PIPE 2 e utilizou os recursos para montar um laboratório. Nos três anos seguintes, os sócios tentaram encontrar empresas que possuíssem fábricas ou investidores estrangeiros interessados no produto. Mayb conta que eles conseguiram uma parceria na Nova Zelândia. Ela viajou para o país e estava tudo acertado para que a empresa se mudasse para lá. “A gente viu a passagem para o Camillo viajar dia 26 de março de 2020, aí veio a pandemia e fechou tudo”, relembra.

Sem a possibilidade de viajarem para a Oceania, Camillo e Mayb decidiram submeter o projeto para o Programa de Desenvolvimento de Negócios (PDN) do BiotechTown. A aceleração foi feita de forma remota e no evento Demo Day — que apresenta ao mercado as tecnologias das startups investidas pelo hub de inovação —, em 2021, Mayb Andrade ganhou o prêmio de “Empreendedor mais participativo” e a Kimera Biotecnologia foi eleita a “Startup mais atrativa” pelos investidores.

 

Ampliação dos negócios

Seis meses depois, a empresa conseguiu um investidor anjo para ajudar na montagem da fábrica. Outra boa notícia, foi a aprovação conquistada no Finep Propriedade Intelectual em 2024, fato que contou com a participação decisiva da AUSPIN. O casal conta que ficaram sabendo sobre o programa por intermédio de Fábio Fiorotto, ex-funcionário da agência e durante o processo de submissão da proposta, receberam a ajuda da ex-funcionária Fernanda Basso e de Flávia Prado, Agente de Inovação.

Detalhes do laboratório da empresa [Imagem: AUSPIN]

Para ela e Camillo, o programa é de extrema importância para os próximos passos da Kimera. O produto desenvolvido demanda uma forte regulamentação para venda, por esta razão, eles ainda não recebem faturamento com a startup. Basicamente, os recursos para a pesquisa são oriundos de órgãos de fomento. “O edital aceita usar o investimento para pagar o pessoal, oferece assessoria jurídica, assessoria técnica para elaboração do dossiê para o órgão regulatório, prova de conceito e elaboração de lotes”, explica Camillo.

 

Sobre o edital

O Programa de Apoio à Comercialização da Propriedade Intelectual, mais conhecido como Finep Propriedade Intelectual, concede recursos de subvenção econômica para projetos inovadores e de risco tecnológico. 

O edital é destinado a empresas e startups que visam elevar o nível de maturidade tecnológica (TRLs) de patentes ainda não licenciadas de 3 para 7, sendo que os projetos devem necessariamente prever a demonstração do protótipo do sistema em ambiente operacional (TRL 7). O valor solicitado de subvenção deverá ser entre R$ 1,5 milhão e R$ 5 milhões.

Mais detalhes do programa, exigências e o edital, estão disponíveis no site: http://www.finep.gov.br/apoio-e-financiamento-externa/programas-e-linhas/finep-propriedade-intelectual

 

Por: Julia do Nascimento Martins

        Estagiária sob supervisão de Ronaldo Nina