Agência USP de Inovação celebra duas décadas de atuação buscando formas mais competitivas de trabalhar a propriedade intelectual na Universidade, além de intensificar a transferência de tecnologia e ampliar os espaços de empreendedorismo

Evento da Agência USP de Inovação -Foto: Divulgação/Auspin
A cultura da inovação tornou-se um dos objetivos estratégicos das universidades, especialmente das que se dedicam à pesquisa e ao ensino, como a USP, que reconhece seu papel no avanço do conhecimento e na solução de desafios contemporâneos. De um escritório de patentes à prioridade institucional, a inovação agora é tratada diretamente em decisões do conselho universitário e segue ganhando espaços que incentivam a colaboração entre academia, mercado e sociedade, com o objetivo de gerar conhecimento e transformá-lo em produtos e processos que melhorem a vida das pessoas.
Na USP, muitos desses caminhos passam pela Agência USP de Inovação (Auspin), que completa 20 anos de atividades em 2025, consolidada em três missões principais: gestão da propriedade intelectual, transferência de tecnologia e promoção do empreendedorismo, atuando ainda, de forma transversal a essas áreas, na comunicação sobre o tema, garantindo que suas iniciativas cheguem ao conhecimento público.
“Nosso objetivo é tornar a gestão da inovação na USP ainda mais estratégica e alinhada com as demandas do mercado e da sociedade. Queremos fortalecer o apoio aos grandes projetos e tornar a gestão das patentes mais eficiente. Para isso, contratamos um novo serviço de advocacia que permitirá um tratamento mais profissional dos processos”, destaca Luiz Henrique Catalani, coordenador da Auspin. Professor titular do Instituto de Química (IQ) e ex-diretor da unidade, ele atuou como coordenador do Centro de Inovação da USP, o Inova USP, de 2018 a 2022.
Catalani explica que a agência também está realizando uma reavaliação completa do portfólio de patentes da USP, identificando aquelas que já não têm mais interesse de mercado para disponibilizá-las ao público de forma adequada. “Esse movimento pode ter um grande impacto na transferência de tecnologia, garantindo que apenas as inovações com valor comercial sejam negociadas. Outra iniciativa importante é a criação de um serviço de análise competitiva de propriedade intelectual, algo já comum no exterior, mas pouco explorado no Brasil”, diz o coordenador.
Prioridade institucional
Criada em 18 de fevereiro de 2005 pela Resolução USP nº 5175, a Auspin teve uma trajetória ligada à gestão da propriedade intelectual e ao fomento à inovação na Universidade, atuando em consonância com a Lei de Inovação (Lei nº 10.973/2004), que regulamentou a relação entre universidades, institutos de pesquisa e o setor produtivo no Brasil. A agência incorporou o Grupo de Assessoramento ao Desenvolvimento de Inventos (Gadi), que desde 1992 orientava pesquisadores da USP na proteção de suas invenções, analisando pedidos de patentes e a assessoria na relação entre a universidade e empresas interessadas em tecnologias desenvolvidas na USP.
“Um dos pontos centrais da Lei de Inovação foi a criação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), unidades responsáveis por gerir a propriedade intelectual e promover a transferência de tecnologia dentro das Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs). Toda ICT pública passou a ser obrigada a ter um NIT, e foi nesse contexto que a Auspin foi criada, para atuar como o núcleo de inovação tecnológica da USP”, destaca o coordenador da agência.
Competição de projetos de startups realizadas pela Auspin e a sede da agência no campus da capital, no bairro do Butantã - Fotos: Julia Martins e Divulgação/Auspin
Desde então, o chamado ecossistema de inovação da USP cresceu e outras iniciativas, como o Centro de Inovação da USP (Inova USP), criado em 2018, passaram a atuar de forma complementar e colaborativa com a Auspin. “O Inova USP tem uma outra missão, que é a de ser uma janela de relacionamento entre sociedade e academia, mediando projetos de dentro e de fora da USP em prol da inovação na universidade”, explica Catalani.
A governança da inovação na Universidade ganhou outros rumos a partir de 2022, quando, sob a gestão do reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior, a USP passou a reconhecer a inovação como uma missão primária da Universidade, elegendo o fortalecimento dessa área uma prioridade institucional. A área foi incorporada ao escopo da Pró-Reitoria de Pesquisa, que passou a se chamar Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) e, com isso, a pauta da inovação passou a ser trazida diretamente para dentro do conselho universitário, no qual ela estava ausente.

Paulo Nussenzveig, pró-reitor de Pesquisa e Inovação da USP, e Raul Gonzalez Lima, pró-reitor adjunto de Inovação – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
“A Universidade é um importante celeiro de conhecimento gerado pela pesquisa. O que esperamos da Pró-Reitoria é que ela contribua para que esse conhecimento e estimule também a inovação”, destacou na época o pró-reitor de Pesquisa, Paulo Alberto Nussenzveig.
Atuando como pró-reitor adjunto de Inovação da USP, Raul Gonzalez Lima destaca a necessidade do ambiente de “hélice tríplice”, que permite atividades da academia com o governo e com entidades não governamentais, que incluem as empresas privadas, para que a inovação seja efetiva. “A Auspin tem viabilizado a missão da USP de levar conhecimento de ponta a diversos setores da sociedade. Além disso, ela reúne indicadores essenciais para monitorar o impacto do conhecimento gerado na Universidade, acompanhando como ele pode beneficiar, beneficia e já beneficiou a sociedade, seja nos aspectos culturais, econômicos ou sociais”, explica.
Inovações em benefício da sociedade
A tecnologia por trás do medicamento Vonau Flash, utilizado para combater náuseas e vômitos, ilustra bem a importância do papel da Auspin na Universidade. Desenvolvida na USP, se tornou um dos casos mais emblemáticos de inovação patenteada na Universidade. Criada por pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), a formulação em comprimidos de dissolução rápida foi licenciada para a empresa Biolab Farmacêutica, tornando-se um sucesso comercial. O caso reforça o impacto da pesquisa acadêmica na indústria farmacêutica e exemplifica o papel da USP na geração de tecnologias inovadoras com aplicação no mercado, o que foi tema de um programa especial dos 90 anos da USP veiculado pela TV Cultura.
“Outro exemplo bem atual que mostra um empreendimento extremamente relevante para a sociedade e que tem potencial de se tornar um sucesso comercial na área farmacêutica, gerando retornos financeiros para a USP, é o fitofármaco de canabidiol produzido por cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) em parceria com o laboratório Prati-Donaduzzi, do Paraná”, destaca Catalani. Ele se refere ao primeiro extrato de canabidiol desenvolvido no Brasil, liberado para comercialização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em maio de 2020, que pode ser receitado para qualquer condição em que o canabidiol seja considerado potencialmente benéfico para o paciente, mediante apresentação de receituário controlado.
“A Auspin cuida da gestão da propriedade intelectual na Universidade, que não é só relacionada à patente. Estamos falando de marcas, registros de software, garantindo que os direitos de propriedade intelectual sejam resguardados”, diz Catalani, lembrando que atualmente a agência conta com um portfólio de mais de 1700 patentes.
O pesquisador da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) Humberto Gomes Ferraz fala sobre o Vonau Flash, na TV Cultura, e o canabidiol produzido pela USP de Ribeirão Preto em parceria com a Prati-Donaduzzi - Fotos: Divulgação/ Tv Cultura e Prati-Donaduzzi
O coordenador da Auspin destaca ainda outras iniciativas com grande potencial de transferência de tecnologia na Universidade, como a pesquisa sobre hidrogênio verde, reciclagem de lítio, suínos geneticamente modificados para xenotransplante e a terapia com células CAR-T, que visa reconhecer e combater células tumorais.
Ele explica que muitos pesquisadores na USP optam por não proteger suas descobertas, seja por falta de interesse em patentear ou por não perceberem a importância dessa proteção. Essa situação gera um dilema, pois não é possível obrigar um pesquisador a submeter sua pesquisa à avaliação de órgãos como a Agência USP de Inovação antes da publicação. Contudo, a Universidade pode optar por patentear certas inovações para evitar que outras pessoas o façam, transformando o conhecimento em um bem público, acessível a todos. “Esse é um direito e até um dever das instituições públicas, especialmente quando se trata de tecnologias com potencial para beneficiar a sociedade”, ressalta Catalani.
Nesse trabalho, também há a facilitação da negociação de licenciamento de tecnologias, promovendo a transferência de conhecimento para o mercado e para a sociedade. E essa transferência de tecnologia é a segunda grande missão da agência. “Ela ocorre de duas maneiras: nós motivamos o interesse de empresários por uma propriedade intelectual da Universidade, ou ele já está em contato com o inventor, muitas vezes após ter investido em pesquisas anteriores. Em ambos os casos, chega um momento crucial em que a tecnologia precisa ser transferida para o mercado, garantindo a aplicação prática e o impacto da inovação”, explica o coordenador da Auspin, destacando o papel da agência nessa assessoria.
Oportunidades para empreender
O estímulo ao empreendedorismo, outra missão da Auspin, tem avançado de várias formas na Universidade. No âmbito de um empreendedorismo profissional, a geração de ambientes de inovação levou à consolidação de quatro incubadoras de empresas: a USP/IPEN-Cietec, em São Paulo, uma das principais incubadoras de base tecnológica do País, apoiando startups em diversas áreas; o Supera Parque, em Ribeirão Preto, que impulsiona empresas voltadas à biotecnologia, saúde e tecnologia da informação; a EsalqTec, em Piracicaba, que é referência no desenvolvimento de negócios ligados ao agronegócio e sustentabilidade; e a Incubadora Escola Habits, voltada para o empreendedorismo social.
As incubadoras da USP possuem uma gestão independente, permitindo autonomia nas suas operações e no desenvolvimento de seus projetos, mas a Auspin participa ativamente do conselho desses espaços, garantindo que as iniciativas estejam alinhadas com a missão e os objetivos estratégicos da USP, promovendo inovação e contribuindo para a transferência de tecnologia e o desenvolvimento de parcerias.
Incubadoras da USP: USP/Ipen - Cietec, no campus da capital; Supera Parque, em Ribeirão Preto; EsalqTec, em Piracicaba; e Habits, no campus da Zona Leste - Fotos: Divulgação/Cietec, Supera Parque, Esalqtec e Habits
Com relação ao empreendedorismo universitário, a Auspin tem colaborado na oferta de disciplinas voltadas ao tema. “Muitas das disciplinas estão recebendo inscrições de centenas de estudantes“, celebra Catalani. Hoje, o estudante de qualquer curso de graduação da USP pode cursar disciplinas oferecidas numa parceria entre a Pró-Reitoria de Graduação (PRG) da USP e a Auspin, como Inovação & Empreendedorismo (PRG0004), com participação de outras quatro instituições de ensino superior; Fundamentos em Empreendedorismo (PRG0005); Laboratório de Inovação e Empreendedorismo (PRG0016); e Como Criar uma Startup (PRG0017). Na pós-graduação, há a disciplina Formação do Cientista Empreendedor (DPG 5011).
Além disso, a agência tem auxiliado na divulgação de mais de 70 disciplinas de empreendedorismo e inovação oferecidas pelas unidades, dá apoio a iniciativas estudantis na área, como as promovidas pelo Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU), e apoia programas oferecidos pelo Inova USP, como a única residência em inovação promovida pelo Nidus (Núcleo de formação de empreendedores da USP) e o coworking Cosmos, ambiente para estudantes interessados em inovação.
- A Auspin apoia iniciativas de inovação nos campi, como grupos estudantis e coworking – Fotos: Divulgação InovaLab Poli e Cosmos/Inova USP
A Auspin reúne diversas iniciativas que buscam ampliar o empreendedorismo na Universidade, que ficam disponíveis na plataforma Hub USP de Inovação. Os destaques são a Jornada do Empreendedor, que mostra cinco etapas com informações para quem pretende começar ou já está no mundo da inovação e empreendedorismo, e a relação de empresas com DNA USP, constituídas por alunos, ex-alunos e pesquisadores que passaram pela Universidade ao longo dos anos, bem como empresas resultantes de processos de incubação ou de aceleração em alguma das incubadoras associadas à USP. É possível ainda encontrar informações sobre professores, patentes, programas, laboratórios e incubadoras espalhadas pelas 42 Unidades de Ensino e Pesquisa da USP nas cidades de São Paulo, Ribeirão Preto, São Carlos, Piracicaba, Pirassununga, Bauru e Lorena.
Comunicar a inovação
Investir na compreensão da inovação pelos diversos públicos tem sido uma das frentes da agência e inclui desde a manutenção de canais (site, portal Portal Hub USP Inovação) e redes sociais, elaboração de conteúdos especiais, como podcasts, até a organização e participação em eventos.
Cerca de 70 episódios dos webinários Fala, Inovação! abordaram cases e experiências desenvolvidos no âmbito da Universidade, disponibilizando conteúdos para o debate sobre os caminhos da inovação e o papel da USP e de seus pesquisadores neste processo. Em forma de podcast, foram veiculados no canal da Auspin no YouTube, trazendo entrevistas com pessoas de dentro e fora da Universidade, buscando levar numa linguagem fácil de entender questões relacionadas à inovação e empreendedorismo. Temas como cidades inovadoras, unicórnios, incubadoras e programas de inovação estão disponíveis on-line.
Semana de Empreendedorismo e a edição 2024 do SciBiz - Fotos: Divulgação/Auspin e Marcos Santos/USP Imagens
A participação na Semana Global do Empreendedorismo, no mês de novembro, faz a Auspin promover webinars, palestras e workshops no campus da capital em parceria com participantes do ecossistema de inovação e empreendedorismo da Universidade, com programação aberta ao público.
E, desde 2018 aproximando negócios e ciência em benefício da sociedade, a Auspin participa da SciBiz, iniciativa conjunta da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) e da escola de negócios da USP, quando, ao longo de 5 dias, o evento oferece palestras, apresentações, workshops e rodas de debate, que buscam apresentar tecnologias e projetos disponíveis para investimento e/ou licenciamento, reunindo iniciativas de inovação e empreendedorismo, envolvendo executivos, startups, cientistas, investidores e órgãos governamentais.
Para celebrar os 20 anos de contribuições da Auspin, será realizado um evento nesta terça, dia 18 de fevereiro, às 9 horas, na sala do conselho universitário da USP, no bairro do Butantã, em São Paulo, com um painel de debate sobre O futuro dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) no Brasil. No dia 20 de fevereiro, um webinar vai tratar do Futuro do empreendedorismo na USP com a participação de Liliam Carrete, professora da FEA e gestora da área de inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); Geciane Porto, professora da FEARP; Matheus Gerolamo, professor da Esalq e coordenador da área de empreendedorismo da Auspin; e André Fleury, coordenador do Cosmos, coworking do Inova USP. As inscrições devem ser realizadas neste link. Haverá transmissão on-line no canal da Auspin no YouTube.
A Auspin também criou um selo comemorativo que vai circular neste ano, buscando marcar sua contribuição no processo de crescimento da Universidade. O selo é composto por um símbolo gráfico que demonstra que a inovação não segue um caminho contínuo e único, mas sim, caminhos diversos, responsáveis pelo crescimento da transferência de tecnologias que beneficiem a sociedade global.
Para acompanhar as atividades da Agência USP de Inovação, acesse o site da Auspin e as redes sociais Instagram, Facebook e YouTube.
Texto: Reprodução/Jornal da USP