Cientista explica que dados são muito preocupantes, mas ainda há medidas capazes de evitar catástrofes

Carlos Nobre é um dos cientistas mais renomados internacionalmente – SciBiz COP30. 2025/06/16 Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O SciBiz Conference 2025 recebeu como convidado Carlos Nobre, climatologista e catedrático do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, para o painel Amazônia e a busca de soluções para evitar o ponto de não retorno. O evento foi realizado no auditório do Centro de Difusão Internacional (CDI) da USP, no dia 16, segunda-feira, e contou com a parceria do CEPID Bridge, centro de gestão e pesquisa em ecossistemas para transições sustentáveis.
O cientista destacou a importância da floresta amazônica para o mundo. O bioma é conhecido mundialmente pela sua biodiversidade e pela importante absorção e armazenamento de carbono. “A floresta também é importante pela sua eficiente reciclagem de água devido à presença dos rios voadores, fenômeno responsável pelas chuvas em outras regiões do Brasil, como o Sul”, explicou.
Mas, apesar disso, Nobre ressaltou que a Amazônia está muito próxima do tipping point ou ponto de não retorno, causado pela interação sinergística entre mudanças climáticas e os usos da terra. Ele apontou que, se o desmatamento atingir entre 20% e 25% da floresta e o aquecimento chegar a 2ºC ou 2,5ºC, a distribuição do bioma mudará drasticamente: no oeste, ainda existirá floresta, mas, no leste e sudeste, sobrará apenas savana degradada.

SciBiz COP30. 2025/06/16 – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Dados alarmantes
O climatologista apontou que a Amazônia é o segundo bioma que mais queima no Brasil e que a maioria é de origem humana. Além disso, as consequências não são devastadoras apenas para a floresta, mas também para os moradores da região, já que as micropartículas liberadas pelas queimadas diminuem cerca de dois anos da expectativa de vida dessa população, fato que aumenta os níveis de desigualdade e vulnerabilidade humana.
Mesmo que o desmatamento na Amazônia tenha diminuído no último ano, 18% da bacia amazônica está desmatada e a floresta sofre com a derrubada ilegal de árvores devido ao avanço das plantações de soja e de dendê. “Já existem mais de cem milhões de cabeças de gado na região”, afirmou Nobre. “Sendo que 80% da agropecuária depende das chuvas geradas nas terras indígenas da floresta”, completou. A produtividade agrícola é afetada e o controle das emissões de gases do efeito estufa é diminuído.
“Antes, a Amazônia sofria uma grande seca a cada vinte anos que a própria floresta conseguia reverter. Mas, nas últimas duas décadas, aconteceram secas extremas em 2005, 2010, 2015-2016 e 2023-2024”, pontuou o cientista. A ampliação da estação seca aumenta o déficit de pressão de ar atmosférico e contribui para a alta taxa de mortalidade das árvores. Ele ainda salientou que as mudanças de temperatura têm reduzido a produção de castanha no estado do Pará e amplificado os riscos de novas epidemias e pandemias.

SciBiz COP30. 2025/06/16 – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Caminhos possíveis
O professor apresentou quatro possíveis soluções. “Primeiro, precisamos zerar o desmatamento, o fogo e a degradação imediatamente. Em seguida, devemos prosseguir com o Arco da Restauração e realizar a restauração florestal em grande escala com espécies nativas”, afirmou. A iniciativa brasileira, liderada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e pelo BNDES, com recursos do Fundo Amazônia, visa recuperar 24 milhões de hectares de floresta nativa até 2050, com 6 milhões de hectares prioritários até 2030.
Carlos Nobre destacou ainda a necessidade de investir na sociobioeconomia, modelo que busca integrar as dimensões social, biológica e econômica, com foco na valorização da biodiversidade e no fortalecimento de comunidades locais. “Precisamos valorizar os conhecimentos dos povos indígenas e as ideias que mantém as florestas em pé e os rios fluindo”, encerrou.
Por Julia Martins*
*Estagiária sob supervisão de Ronaldo Nina