Mineração de patentes indica rotas promissoras para pesquisas

Janaína Simões  |  Agência FAPESP – Novas moléculas conjugadas podem estender a ação do fator VIII recombinante sintético, usado para pessoas com hemofilia do tipo A, doença que impede a coagulação do sangue.

Metodologia desenvolvida por cientistas da USP para lidar com grande volume de dados foi verificada em análise de estudos sobre hemofilia e também pode auxiliar na busca por parcerias e na transferência de tecnologia (foto: Geralt / Pixabay)

A identificação foi feita por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas em Inovação, Gestão Tecnológica e Competitividade (InGTeC) e do Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) – ambos financiados pela FAPESP e pertencentes à Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto.

O fator VIII recombinante é uma proteína produzida sinteticamente a partir de células humanas para tratar pacientes que sofrem da hemofilia do tipo A, doença causada por mutações genéticas que ocorrem nas regiões do DNA do cromossomo X responsáveis pela produção da proteína.

Descobrir uma maneira de fazer o fator VIII recombinante atuar por mais tempo no organismo pode melhorar muito a vida de hemofílicos, ao reduzir o número de aplicações da proteína e diminuir o custo do tratamento. Segundo o Ministério da Saúde (MS), o Brasil registra 12.516 hemofílicos, sendo 10.462 com hemofilia do tipo A e 2.054 do tipo B.

O estudo permitiu a identificação de uma molécula, chamada XTEN, como grande promissora na inovação da produção do fator VIII recombinante que prolonga sua meia-vida, isto graças aos conhecimentos produzidos no InGTeC e no CTC da USP na análise das patentes do setor.

O grupo utilizou ferramentas de big data, como mineração de dados e análise de redes, para desenvolver um método que facilita a vida de cientistas e de empresas na busca por rotas, tendências e parcerias tecnológicas em qualquer área do conhecimento. A nova metodologia identifica tendências tecnológicas a partir de informações obtidas em bancos internacionais de patentes.

Mais do que levantar as patentes em uma área, o método identifica as rotas tecnológicas utilizadas por empresas e universidades em vários países, as que estão se desenhando como tendência e as redes de parceria entre empresas e instituições científicas que atuam no setor.

Inovador, o método está descrito em artigo que acaba de ser publicado na Nature Biotechnology. Também já estão em andamento pesquisas para traçar rotas tecnológicas nas áreas de energia solar, biocombustíveis, sementes e plantas medicinais. Os resultados dessas pesquisas serão publicados futuramente.

O estudo agora publicado é resultado do pós-doutorado do biólogo Cristiano Gonçalves Pereira na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, com Bolsa da FAPESP.

O trabalho detectou outras tendências em pesquisa e inovação na produção do fator VIII recombinante. Um é sua produção em larga escala com maior qualidade.

“As pesquisas caminham no sentido de adicionar suplementos à proteína para ter uma concentração mais robusta e apurada da mesma. Também observamos tecnologias voltadas para reduzir a imunogenicidade, que é a resposta que o organismo do paciente dá à proteína recombinante”, disse Pereira à Agência FAPESP.

Essa busca se dá porque, mesmo sendo produzido a partir de células humanas, os pacientes podem rejeitar o fator VIII recombinante pelo fato de que o sistema imune pode identificar essa proteína como um corpo estranho e atacá-la.

A pesquisa mostrou ainda que os Estados Unidos são o principal país quando se trata de produção nesse campo, que há um grupo de empresas europeias que colaboram fortemente entre elas e se mostraram mais influentes em relação aos laços de cooperação e que o Brasil não aparece na rede de colaborações, provavelmente porque o país colabora apenas pontualmente nesse campo.

O estudo do fator VIII recombinante foi um dos exemplos práticos utilizados para desenvolver o método que traça rotas tecnológicas a partir do estudo de Pereira orientado por Geciane Silveira Porto, professora na FEA-RP e coordenadora do InGTeC. O trabalho contou com colaborações de Virgínia Picanço-Castro e de Dimas Tadeu Covas, respectivamente pesquisadora do CTC e coordenador do centro.

A pesquisa teve apoio da FAPESP, que investiu no desenvolvimento de estudos relacionados às rotas tecnológicas do fator VIII recombinante, de energia solar e de biocombustíveis, além de conceder apoio aos pesquisadores para utilizar uma base de patentes que congrega os pedidos feitos em escritórios de registro de propriedade intelectual em todo o mundo.

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