Laboratório em São Carlos estuda novas formas de tratamento de água

Descobertos há décadas, contaminantes emergentes passam despercebidos em estações de tratamento, aponta químico

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A água que consumimos pode não estar totalmente livre de impurezas. Esse risco existe quando produtos que utilizamos no dia a dia, como remédios, protetores solares, pesticidas, itens de higiene pessoal são encontrados em rios que abastecem municípios. Antibióticos podem até gerar superbactéria, uma vez que seus compostos ativos são biológicos. As estações de tratamento de água não conseguem remover completamente esses compostos, já que não possuem equipamentos apropriados para a tarefa. Caso haja a ingestão dessa água contaminada, seres humanos e animais estão sujeitos a problemas como disfunções no sistema endócrino e reprodutivo, além de distúrbios metabólicos.

“Os estudos para identificar os contaminantes emergentes da água se dão no mundo há algumas décadas. No Brasil, ocorrem há uns 20 anos. Antes não havia tecnologia para identificá-los”, explica o professor Eduardo Bessa Azevedo, do Instituto de Química de São Carlos (IQSC), ao Jornal da USP no Ar. O pesquisador aponta que essas substâncias aparecem em pequenas quantidades , por isso a demora para percebê-las. As baixas concentrações também dificultam sua extração. “Remover um quilo de lixo é fácil. Um grama de uma substância sintética, não”, comenta.

As pesquisas, então, evoluem em três vertentes. A primeira é o monitoramento, responsável por indicar a concentração desses contaminantes presentes nos reservatórios e rios, agora. A segunda, os testes toxicológicos, apontando os parâmetros limites de exposição do ser humano à determinada substância. Por fim, são estudados métodos físicos e químicos de extração dos toxicológicos.

“O Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Ambientais, do qual faço parte, já está próximo dessas técnicas. Os alunos trabalham com contaminantes emergentes. Cada um com uma classe. Assim, sugerem processos de tratamento diferentes. Ao passo que soubermos a concentração máxima permitida de certa substância, a tecnologia já estará pronta. É ciência de bancada dando soluções para o futuro”, conta o professor.

O Brasil, por enquanto, não tem nenhuma legislação a respeito do assunto. Porém, Azevedo expõe que nenhum país tem. “Somente com o estudo toxicológico bem consolidado, terá condições de prevenção. Com os parâmetros limites serão definidos tanto políticas de saúde pública, sustentadas em regulação e fiscalização, como projetos de engenharia economicamente sustentáveis”, declara. Segundo o docente, as estações de tratamento de água atendem bem aos critérios para os quais foram projetadas. Só que seus projetos foram elaborados quando sequer conhecia esses contaminantes.

Um trabalho de conscientização da sociedade também é necessário, conforme o pesquisador. “Quando se ingere um remédio, nosso organismo o expele por meio da urina e das fezes, então é inevitável. Aquela substância acaba na água. Mas aquele medicamento perto de vencer, em vez da lata de lixo, deve ser retornado a uma farmácia. O pesticida aplicado próximo aos mananciais tem consequências. As pessoas têm de ter consciência que tudo que é despejado tem um destino. Rios, lagoas, oceano. E no fluxo da água, os moradores da cidade mais abaixo serão os afetados”, esclarece.

Informações do Jornal da USP.

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