Especialistas esperam maior investimento em ciência e tecnologia

Mayana Zatz diz que 2018 foi marcado por decadência de laboratórios e saída de jovens talentos

Realizando uma projeção de desafios para o ano de 2019 na área da ciência, com a posse do ministro Marcos Pontes para a Ciência e Tecnologia do novo governo, e observando o comportamento da área no ano que passou, o Jornal da USP No Ar conversou com a doutora Mayana Zatz, professora titular de Genética do Instituto de Biociências (IB) da USP, diretora do Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco e também colunista da Rádio USP.

As dificuldades em 2018 para o setor, segundo Mayana, foram grandiosas devido aos cortes na área de ciência e tecnologia, que já vinham ocorrendo nos últimos anos. “Perdemos inúmeros jovens talentos que foram embora e não vão querer voltar tão cedo. A não ser que a situação mude e melhore daqui por diante.” A professora aponta que esses jovens talentos vão, em sua maioria, para os Estados Unidos, para a Europa e para o Japão, sendo que eles se formaram na USP e são apreciados por isso no exterior. Mayana complementa afirmando que, se não houver uma mudança, a situação ficará irreversível.

Foto: Visual Hunt

Mas nem tudo foi problema no último ano. Ocorreram trabalhos científicos que obtiveram sucesso e relevância no País. A especialista destaca alguns deles: “Graças à Universidade de São Paulo, que nos dá o espaço, e às verbas da Fapesp, nosso grupo conseguiu desenvolver projetos importantes, como o do zika, e o que mais nos animou foi mostrar que o vírus pode destruir tumores cerebrais que são letais e não têm cura. Nós tivemos um projeto, aprovado junto com a Fapesp, de porcos que poderiam servir como doadores de órgãos. Com toda esta tecnologia que existe hoje, de modificação de genes, a ideia é modificar os genes dos porcos para que eles possam ser doadores de órgãos sem que haja rejeição pelos seres humanos”. Outro projeto científico animador foi o 80+, relacionado ao envelhecimento, que analisa genomas da terceira idade, com o objetivo de aumentar a expectativa de vida com mais saúde.

Para 2019, pode-se esperar um ânimo na área com o novo ministro de Ciência e Tecnologia, segundo a professora de Genética. “Eu soube por cientistas e representantes que estiveram com o novo ministro — que saíram muito animados da reunião — que ele realmente quer aumentar o investimento, chegando em até 3% do PIB.” Outro ponto relevante para ela é incentivar a iniciativa privada a aplicar no setor de ciência e tecnologia, por meio de isenções fiscais para quem realiza o fomento, tanto para empresas que desenvolvem junto às universidades como para pessoas que tenham interesse em investir em pesquisa. A maneira que se distribui verbas também deve ser analisada e transformada para não dar quantias iguais a todos, sendo que alguns não têm material de consumo, além de desburocratizar alguns processos da área que acabam atrapalhando o desenvolvimento de pesquisas.

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