Estética e funcionalidade andam lado a lado

(imagem: Google (2016) – modificações gravídicas – alteração de medidas dos seios durante a gestação)

No período da gestação o corpo das mulheres passa por diversas mudanças, tanto para se adaptar com o crescimento do feto e dar condições para seu crescimento saudável, quanto para quando o bebê nascer. No entanto, atualmente não há no mercado vestuários com propostas, tecidos e até modelagens que se adaptem a essas mudanças. 

Pensando nisso, as pesquisadoras, orientadas pela professora Regina Aparecida Sanches, Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP começou a estudar as matérias-primas, estruturas de malhas e tecnologias de fabricação, visando trazer para o mercado uma proposta de vestuário que se adeque e seja mais confortável para as gestantes.

Na imagem acima por exemplo, é notado o impacto que o crescimento das mamas provoca nas gestantes. Pensando no conforto e no equilíbrio, foi dada especial atenção às mamas na confecção do vestuário com malha tubular.

A pesquisa

(A blusa em estudo acompanha essas mudanças, proporcionando conforto durante toda a gestação. Imagem: google, 2016)

A equipe que realizou o projeto contava com, além da orientadora Professora Regina, (do têxtil), Daniela Mentone, (mestre pelo programa de Têxtil e Moda da EACH), Professora Ruth Osava (da obstetrícia) e Professora Suzana Avelar, (da moda), juntando pesquisadores de várias áreas a fim de englobar todas as esferas possíveis para conseguir unir a estética a funcionalidade.

“O papel das mulheres na pesquisa foi fundamental, porque foi um produto desenvolvido por elas e para elas. Vale lembrar que o ponto de partida da escolha das professoras não foi por ser mulher, mas sim, baseado no histórico profissional e de pesquisa dessas professoras. Sempre na carreira delas houve essa preocupação com a mulher”, falou Daniela em entrevista.

A Professora Suzana é da moda e tem seu estudo voltado para corpos diversos. Isso diz respeito não apenas ao corpo feminino mas, na pesquisa, o viés foi voltado para ele. Já a Professora Ruth, da obstetrícia, estuda fundamentalmente o corpo da mulher e as mudanças durante a gestação. Ela trouxe para a equipe o estudo voltado para a área mais biológica. A Professora Regina é da malharia, que contribuiu em aspectos voltados para a confecção da roupa. 

Daniela conta que trabalhava em confecção, e percebeu que o mercado que produz roupas para gestantes não tinha um olhar que ia além da estética, o que muitas vezes tirava o conforto e a funcionalidade para as grávidas. Juntar funcionalidade e a estética foi o ponto de partida de todo o trabalho. 

“A equipe multidisciplinar que é uma coisa que a EACH proporciona. A professora Regina foi minha orientadora, do têxtil, e tive também a orientação da Professora Suzana, que é da moda, e da professora Ruth, da obstétrica. Desde o início todo o levantamento foi em cima da gestante”, disse Daniela Mentone.  

Segundo Daniela, o projeto levou cerca de dois anos para chegar no protótipo. A fase inicial se mostrou mais extensa devido a utilização do método Design Thinking, e sua defesa foi feita em 2018. 

Design Thinking

O grupo utilizou a metodologia Design Thinking para entender os desconfortos que as gestantes sentem, e a partir disso, pensar no vestuário que proporcionasse maior conforto. Também analisaram alguns aspectos da roupa, como gramatura, determinação de espessura, tendência à formação de snagging, determinação de alongamento e da elasticidade, gestão da umidade e determinação de absorção por capilaridade.

“Começa com o levantamento do problema. Não é sobre querer fabricar ou querer pesquisar tal coisa, inclusive, antes eu imaginava que iria desenvolver jeans para grávidas, não roupas funcionais. Esse é o tamanho da importância do Design Thinking” disse Daniela em entrevista. 

“O projeto Inicial foi praticamente descartado a partir da hora que achei o método, e fiz o levantamento do problema. O Design Thinking tem esse olhar: qual a necessidade e para quem eu estou fazendo? Isso faz o motivo daquela pesquisa existir. A partir dele é que nós detectamos o problema da gestante e aí então modelamos e passamos por todas as etapas até a prototipagem. Conseguimos uma parceria fantástica com SENAI”, completou.

Sobre a parceria com o SENAI, Daniela conta que foi algo fundamental para seguir as etapas do Design Thinking, por causa do PAP (Projeto de Apoio ao Pesquisador), um projeto ligado à universidade. A parceria foi fundamental para a etapa de prototipagem, para conseguir fazer os testes e assim validar se as soluções foram encontradas. 

O futuro da invenção

(imagem: Daniela Antunes Nolasco Mentone, 2017. Prototipagem)

A equipe espera que a ideia de juntar a funcionalidade e a beleza das roupas não pare ou fique esquecida, uma vez que cada vez mais as mulheres procuram por praticidade para o dia a dia. 

“Esse produto que foi desenvolvido na pesquisa é totalmente aplicável ao mercado, ao público alvo, que é a gestante. Inclusive mostrou-se durante a etapa de prototipagem e de teste que ele é viável, tanto economicamente como produtivamente em termos de produção Têxtil. No teste, ele foi muito bem aceito pelas gestantes e todas elas disseram que se houvesse o produto no mercado e elas adquiriram” explica Daniela.

Para o futuro, as pesquisadoras frisam que querem que o trabalho seja aprofundado. Que sejam criados novos produtos, além dos já existentes. A pesquisa fez uma blusa que possibilita que a gestante não precisasse do uso de sutiã, ou seja, é um vestuário “exterior”, uma vez que o que temos no mercado em sua maioria são íntimas. 

“Meu grande desejo é que, esse produto feito para que a pessoa use como segunda camada, possa ser aplicado em várias outras peças e que possa trazer mais possibilidades para a mulher, dentro de suas necessidades, com o método que funcionou muito bem. A partir daí, ele pode ser aplicado para várias outras peças”, finalizou Daniela.  

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